"O que também salvara Lóri é que sentia que se o seu mundo particular não fosse humano, também haveria lugar para ela, e com grande beleza: ela seria uma mancha difusa de instintos, doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta, como era humanamente, mas seria de forma permanente: porque se o seu mundo não fosse humano ela seria um bicho. Por um instante então desprezava o próprio humano e experimentava a silenciosa alma da vida animal.
E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.
Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros do não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que estava em plena condição humana.
No entando às vezes adivinhava. eram manchas cósmicas que substituíam entender"
E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.
Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros do não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que estava em plena condição humana.
No entando às vezes adivinhava. eram manchas cósmicas que substituíam entender"
Clarice Lispector
(porque o que eu mais aprendo lendo o livro da aprendizagem é como ela era mulher e meu antigo preconceito contra ela se foi, porque ela diz de mim coisas que nunca me houveram palavras para expressar, e eu morro em cada frase um pouquinho)
e é tudo culpa da Nat, que é coisa linda, personificação de poesia. Lindo também, é conhecer você e poder aprender tanto com seu jeito ainda mais manso e sincero de ser. Obrigada por ser assim.
e é tudo culpa da Nat, que é coisa linda, personificação de poesia. Lindo também, é conhecer você e poder aprender tanto com seu jeito ainda mais manso e sincero de ser. Obrigada por ser assim.
1 comment:
coincidência ou não
pra onde eu olho eu vejo clarice lispector, estranho né?
vou procurar algo pra ler..
mas sabe, fim de namoro sempre foi muito doloroso pra mim, a não ser esse,não entendo :/
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