Monday, December 06, 2010

o raio

O contato que temos com nosso próprio eu é um pouco do que é a própria realidade, a estranheza que toma conta, dúvidas e a poesia que podemos encontrar ali escondida é uma versão em pequena escala daquilo com que nos deparamos no dia-a-dia. A diferença é que a reflexão sobre nós mesmos sempre nos faz exergar o tão pouco que sabemos, que temos consciência, do ser, do que somos. E essa grandeza que nos envolve e às vezes nos exclui, é amendrontadora, nos faz sentir como pequenos seres diante de um objeto que nosso campo de visão nunca terá capacidade de enxergar.
Estamos acostumados a negar esse todo que desconhecemos, de forma que é questionado aquele que questiona; a rotina desloca nossas idéias para aquilo que é mais imediato, mais social e acessível. Para muitos não faz sentido pensar sobre motivos e razões maiores, se tudo que somos é isso que vivemos. São loucos aqueles que pensam além do trabalho, lazer, estudo de sua vidinha que é tudo que importa. Acontece que às vezes num lapso de consciência que nos abate como um “raio” essas dúvidas, que talvez nunca foram nossas, passam a perseguir nossos pensamentos e mudam completamente a maneira como enxergamos a nossa vida, mudam nossos valores.
Por mais amedrontador que pareça chegar perto dessa desestabilização que é questionar a complexidade que costumamos ignorar, ela leva mais longe. A arte se deita nesse inquietamento, nesse sentimento de pequenez nossa e imensidão fora de nós. O processo criativo se assemelha à esse sentimento e até mesmo surge dele. Ele é uma habilidade da mente humana, de traduzir as percepções e os entendimentos que estão escondidos no fundo do nosso inconsciente e nos deparamos em momentos de nossa vida e levá-los para a arte, para a ciência, para a medicina, para a engenharia, para as escolas, universidades, empresas, pessoas e até para o dia a dia de todos nós. Essa idéia nos alcança e nos persegue até que se consiga finalizar ou entendê-la. O processo criativo é o “caminho” que a nossa mente faz quando uma idéia é germinada. Em outras palavras, poderemos afirmar que o processo criativo é a habilidade de desenvolvermos a qualidade do nosso pensamento.
Quando tomados por um vislumbre, algo como um acordar meio ao entorpecimento do dia a dia, não só queremos entender além dessa espiada, uma necessidade de mostrar aos outros, de acordá-los, toma conta. É quando a produção de obras desafiadoras acontece, que são até mesmo capazes de incitar esse sentimento em outros.
Não acredito que exista fim para essa inquietação, ela se transforma numa perseguição diária, que provavelmente não encontrará uma resposta, mas que muda a vida de quem a encontra.

Saturday, November 06, 2010

frustação de sexta

Não sou artista, não sou jornalista.
não sou nada. sou disperdício.
disperdício de carbono.
mesmo sabendo da minha falta de talento, eu tento.
esperando alguma benção que faça bonita e interessante.
frustante, massante.
insignificante.

Monday, July 12, 2010

as coisas como estão

fiquei alguns segundos fitando esse notepad em branco. tenho a necessidade de escrever e milhares de frases prontas na minha cabeça, mas na hora de colocar pra fora, todas se escondem em algum canto que não sei achar. Fico deitada no puff analisando a decoração da varanda e todo dia mudo algum detalhe, algo como que faço com minha vida. Às vezes a reposta seria comprar tudo novo, ou mudar completamente minha vida, mas eu ainda gosto e me aconchego do jeito que estão.
Eu sempre aprendi a ter paciência na marra mesmo; todas as vezes que esperei por alguém ou fingi esperar por uma oportunidade melhor. Mas a verdade é que pouquíssimas vezes as pessoas realmente chegam e as oportunidades menos ainda. Talvez no fundo eu saiba que era eu que devia estar indo atrás, mas gosto sempre de esperar pelos sinais que o destino me mostra quando se cansa de esperar e decide por mim o que fazer. Ele sempre me pareceu ter razão, além do mais nunca fui segura o bastante pra tomar as rédeas da vida num impulso mais forte.
2009 acabou com o meu pedido de se esquecer e nunca mais voltar lembranças, resquícios ou arrependimentos. Passou. Nesse ano resolvi mudar pra poder deixar tudo aquilo para trás e agora estou aqui, na minha casa, que aos pouquinhos vou montando e mantendo com o dinheiro que ganho no trabalho que ainda tenho que ouvir que não é bom o bastante pra mim. Ora, eu gosto de ter o dia inteiro pra mim, para pensar, fazer nada, deitar na varanda e tomar sol de pijama. Nunca aspirei à carreiras prolongadas e sempre esperei alguem enchergar um potencial em qualquer coisa em mim. Foi assim que achei o amor da minha vida e falo que não tenho a reclamar, tenho meu par, meu companheiro e nem fui eu quem achou, acabei bem sendo achada.
Passo essa tarde esperando pelo nosso armário que faz mais de mês que compramos. Meio que para poder organizar de fato nossas coisas, poder colocar minhas fileiras de vestidos cinzas ao lado das camisetas que eu dei, colocar meus sapatinhos e botas ao lados dos tênis dele. Arrumar nossa roupa de cama e poder trocar toda semana por alguma mais cheirosa e confortável para dormirmos abraçados. Tem dois quartos vazios para mobiliar e decorar pra daqui uns 5 anos, quando me formar de novo, levar tudo embora pra qualquer lugar que ele queira ir. Às vezes penso no rio, mas na verdade queria ir mais longe, mas deixo pra ele decidir, porque o que eu sempre quis mesmo eu já tenho, que é ele aqui, comigo.
Minha roomate tá lá no andar de baixo, varrendo a sala cheia de isopor dos puffs e enchendo a casa com a gente. Sempre gostei de dividir mais do que o normal e gosto de ter mais alguém que gosto para dividir o canto que seria pra ser só meu. A rotina vai caminhando e sendo divertida do jeito que está. Mês que vem eu fico sem tempo, mas sempre vai ter uns minutinhos sobrando para festa.
Um dia desses muda mais essa fase e eu vou pra longe, voar pra onde ainda não sei, pra acabar voltando depois, pra qualquer outro lugar.

Wednesday, May 12, 2010

tá caminhando.

Sunday, April 18, 2010

no mais ou menos

Eu não ponho selos em minhas fotos. Não me acho importante e não valorizo o que eu faço, se no final alguém elogia, ganho meu dia, mas não faço desse o sucesso profissional que não tenho. Não tenho uma logo com meu nome para parecer mais séria. Não acredito em auto promoção e na maioria das vezes não acredito nas coisas que faço.
Ando pelas mesmas ruas desde sempre, não se se procuro ou me escondo dos rostos feios que encontro no caminho. Gosto quando ignoro-os e estou entre os que me fazem rir alto e esquecer todas essas baboseiras. Gosto quando parece que pode ser tão fácil.
Faço concursos desnecessários para, desnecessariamente agradar meu pai. Naqueles nos quais ainda me deixo uma esperancinha de que estarei sendo razoável se seguir por esse caminho, vou muito bem, mas nunca o bastante para conseguir tentar.
Consigo bicos para sustentar meus vícios entorpecentes inúteis e gastar com coisas que realmente não me interessam. Deixo sempre para aquele futuro que só me espera, as grandes viagens e os grandes sonhos que quero fazer por mim mesma. Patrocínio de papai e mamãe não é confronto, não é "beat" e não me faria morar sozinha de verdade. Seus pais não vão te comprar a liberdade como compraram a maior parte da sua vida.
Então espero só mais um pouco, porque, como ser humano, ainda acredito ser possível alcançar aquilo tudo que disse anteontem a noite bêbada para ele, esperando o apoio e a empolgação que não veio como eu queria. Queria não precisar dele tanto assim. E não no sentido figurado e sentimental, esse não tem solução, ele faz parte de mim assim como cada fio de cabelo que não sei qual cor tem naturalmente. Mas queria que ele só me complementasse, mas que não fosse necessário para minha racionalidade, sustentabilidade, vivacidade, liberdade ou qualquer dade que você pensar.
Mas aceito meus apegos e, normalmente, os entendo. Já falei que um dia provo pra mim que tou caminhando, ao invés de estar presa no círculo intermitente de uma vida daqueles que nunca são o personagem principal, que andam como coadjuvantes no meio dessas bocas tortas e desses pés desproporcionais.
Ainda espero minha vez, mas pelo menos tenho a decência de aceitar que ela ainda não chegou. Não passo meus dias tentando provar para mim mesma que alcancei aquela solidão do mundo adulto, que parece tão poética de longe. Espero quietinha vivendo como a criança que ainda está aqui dentro, doida pra ir embora.

Monday, April 12, 2010

por uma vida menos ordinária

Como fazer? Quando já as dúvidas começam a mostrar respostas e o sentido parece não ser tanto quanto a própria vontade de fazer sentido. E quando tudo parece ir pelo caminho certo, eu volto para aquelas correntes que sempre foram as que me prenderam, sempre foi o que me fez ser assim.
E como podem me cobrar diferença, se minha essência não pode se manifestar? Se eternamente estarei nesse círculo sem sentido e a única pessoa que me tira daqui é meu príncipe encantado? Como posso acreditar na realidade se o real pra mim sempre vai se distanciar e se parecer muito mais com um conto de fadas mal contado? Sempre com final infeliz ou incerto, porque certeza, meu bem, não é por aqui que se encontra.
Eu tento, com minha forças fracas e minha vontade de dormir eternamente, eu tento. Tento mudar, fazer a mudança brusca que minha personalidade pede, mas sou sempre segurada para trás, através do único argumento que nunca irei contra-argumentar. Esse sentimentalismo que sempre me fode por trás, sempre faz minhas decisões se atrasarem por alguém que está na minha frente na vida, no coração.
E no final eu vejo que não sei brigar. Não sei brigar por mim, não tenho estômago pra fazer de mim a primeira pessoa na minha vida. E fico pra trás, como em todos os casos simples da minha história. Fico me adiando, até que verei que a vida passou e eu passei a vida esperando para viver.

me ensina a fugir?

Monday, February 01, 2010

eu merma.

After years of expensive education
A car full of books and anticipation
I'm an expert on Shakespeare and that's a hell of a lot
But the world don't need scholars as much as I thought
Maybe I'll go traveling for a year
Finding myself, or start a career
I could work for the poor, though I'm hungry for fame
We all seem so different but we're just the same
Maybe I'll go to the gym, so I don't get fat
Aren't things more easy, with a tight six pack
Who knows the answers, who do you trust
I can't even separate love from lust
Maybe I'll move back home and pay off my loans
Working nine to five, answering phones
But don't make me live for my Friday nights
Drinking eight pints and getting in fights
Don't wanna get up, just have a lie in
Leave me alone, I'm a twentysomething
Maybe I'll just fall in love
That could solve it all
Philosophers say that that's enough
There surely must be more
Love ain't the answer, nor is work
The truth eludes me so much it hurts
But I'm still having fun and I guess that's the key
I'm a twentysomething and I'll keep being me

Thursday, January 28, 2010

manhãs na hora do almoço

Gelo e limão na cerveja. Culpa e dúvidas na certeza. O desejo que me consome e não posso alcançar. O sonho que me persegue mesmo quando eu acho que não é mais meu. O futuro que se mistifica e se enubria. A noite que se arrasta devagar e tão depressa. A solidão e abandono no meio de tanta boa compania. As duas escolhas que no final se reduzem ao desconhecido.

a verdade é: nunca tive controle sobre meu futuro.

Tuesday, January 26, 2010

just free

Nunca sabemos qual o verdadeiro problema com a gente mesmo. Às vezes eu imagino que meu problema é essa coisa de falta de sentido que sempre me atormenta, de me apegar no sentido simples de tudo e não poder continuar com esse tipo de visão. Afinal, qual o sentido da vida? Ninguém descobriu até hoje e a única coisa que soa plausível para mim é estar bem, alegre, em paz, me divertindo, o que seja. "Ser feliz", por mais clichê que isso sempre soe. 
Mas se é tão simples, porque esse estigma de perdida não me deixa em paz? Às vezes acho que o grande problema é essa pressão e cobrança exterior que se exprime em minha indecisão. É complicado demais ser simples. Querer simplicidade é difícil demais quando todo mundo quer o impossível. Fica soando como se o impossível fosse o tão fácil que eu sempre quis. Todas as pessoas querem conquistar o mundo e tudo que eu quero é conhecer o mundo todo que pra mim, já está conquistado, já está todo aí, simplesmente para ser observado, respirado, sentido. 
Acho que um dia eu sumo e vou experimentar o que todo mundo acha que vai encontrar e parece que eu já sei muito bem onde está. Pode parecer arrogância, mas eu juro que é justamente o contrário.  Só não quero passar pela frialdade de coisificar a vida, quando a última coisa com a qual eu me importo são coisas.

Bom, eu disse antes. É complicado demais ser simples.