Monday, December 19, 2011

muitas vírgulas de uma página amarela rasgada

foi quase como uma bomba. era para ser uma espiada só, e pronto. mas a falta de atenção deslocou o olhar mais uma vez, fazendo perceber de fato tudo que estava acontecendo. como se já soubesse, viu, no lugar que, se tivesse pensando em ver, ja imaginaria.
a boca seca se abria um pouco, quase não dava para reparar. o estômago engolindo gelo invisível e as pernas tremendo experimentavam uma sensação que só se lia nos livros. O adeus que tinha ensaiado discreto e despojado, somado à essa nova situação, pareceu desesperado e até mesmo um pouco infantil, patético.
mais infantil foi seu reflexo de sair correndo, como se estivesse fugindo, não para não enxergar o que tinha visto, mas como se pudesse não ter sido vista, uma vez que já havia. quase se escondeu atrás das enormes e velhas árvores, mas sua razão já estava voltando aos poucos.
na verdade, nada era uma surpresa, a vida continuaria a mesma, na prática. mas com menos certezas. se tivesse parado um minuto, saído de sua fantasia cor-de-rosa, já era de se prever. foi como se finalmente a realidade fosse vista, além daquela que sempre platonizou. vários muros desenhados caíram, e a vida real se deitou, com todo seu peso, ali mesmo.
nunca mais foi tão fácil, já não podia decidir tudo por si, a vontade dos outros não podia mais ser imaginada, nem creditada em palavras qualquer. a dúvida fez perder um pouco da criatividade. mas a crueldade resultou, como sempre, em mais poesia.
anos se passariam até a lembrança desse momento, que nunca havia esquecido, nunca havia desaparecido, mas que preferia não pensar. não que doesse, era só mera falta de importância que, superficialmente, aparentava ter, depois de alguns meses. só ao se lembrar, anos depois, caçando alguma coisa para pensar, que percebeu, de fora, o que acontecera.

1 comment:

g@to100G@t@ said...

Passei por aqui... :P