Friday, August 04, 2006

A tal, das pedras.

Somos todos feitos de pedra. Ou pelo menos alguns de nós. Em mim não há pedra na estrutura, só encravaram aquelas que me atiraram. E não foram poucas. Não sei se existe força que vem dessas cicatrizes, existe decepção, futura insegurança e desconfiança, mas força? Essa simplesmente se esvai como um fluxo sanguíneo perdido em alguma transfusão.
Não quero mais que me atirem pedras. Não quero mais pedras em meu caminho. Nunca fiz questão de ser feita de pedra. Mas nunca pedi que me atrapalhasse com elas. Quero um pouco de vidro, que machuca, mas ao menos é transparente. Não viveria mais se pudesse escolher por desistir. Mas tenho coragem de menos para fazer algo tão covarde. Então prossigo. E não tiro as pedras do meu caminho. E nem devolvo aquelas que me atiraram.
Continuo meu caminho no silêncio da falta de força e coragem para gritar. Não descuto a escolha de quem me é próximo e nem faço ser escutada por minhas próprias escolhas. Culpa minha e só dela eu vivo. Culpa dos erros todos. Culpa de tudo que não é minha culpa. Culpa de me sentir culpada por aquilo que fugiria de meu alcance. Culpa das pedras.
Não peço nada a ninguém. Nunca quis nada de ninguém que não me fosse oferecido. Mas nunca pedi dor também, nem nunca pedi que me oferecessem ela. Mas me foi atirada, com o punhado de pedras que eu carrego na superfície. Mas não discuti, ao menos. Aceitei, resignada como sempre fui. Mas dou-me o direito de relatar. Queria um pouco mais de alguma coisa qualquer, mas não peço, como nunca pedi, com medo de que me dêem o que não me serve. Com medo de que me atirem mais pedras.

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